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terça-feira, 22 de novembro de 2011

O CORAÇÃO DA CIDADE

Nessa semana eu vou começar a realizar o meu sonho: eu vou ser REPORTER! Eu estou animadíssimo!
Eu estou dando milhões de AUAUs de felicidade.

Como o a barra de tradução está funcionando maravilhosamente bem e eu tenho recebido visitantes de outros países, que falam outras línguas humanas, vou passar a escrever só em português, assim diminuo o meu trabalho, já que agora eu vou ter que trabalhar em campo, fazendo entrevistas e tirando fotografias.

Para introduzir vocês ao CORAÇÃO DA CIDADE de São Paulo, Mamãe deixou eu usar um texto dela de um panfleto que ela fez em 2006 e espalhou pelo Centro. Mamãe me disse que fez isso porque ela estava tomada do espírito do poeta português Fernando Pessoa, que escreveu: 

"Da mais alta janela da minha casa     
Com um lenço branco digo adeus
(FOG - by Greg Jensen, 2005)
Aos meus versos que partem para a humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer ao contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvora esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu nem sequer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as boeas.
Rio, o destino da minha água não era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Idê, idê de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura para sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo."

(do heterônimo Alberto Caieiro)


Mamãe disse para mim que toda pessoa que escreve, seja o que for, tem que ter esse espírito de desapego da sua obra, do qual o poeta fala. Eu não sei bem como eu vou fazer isso, pois eu sou muito apegado a tudo que é meu, minhas sacolas, meus ossinhos, meus brinquedos e principalmente a minha Mamãe da qual eu não desgrudo nem um segundo. Mas, talvez eu aprenda a não querer que a Mamãe só cuide do meu blog. Até que essa semana eu fui bonzinho, e só lembrei algumas vezes todos os dias que o meu blog estava parado. Mamãe disse para eu esperar, e eu fiquei vendo ela fazer os outros blogs.

Pois bem, então aí vai o panfleto da Mamãe e essa semana ainda ela me prometeu que a minha primeira reportagem vai ser publicada. Então, fica aqui o meu AUAU carinhoso para todos vocês que me visitam e aguadem o FREEWAY REPORTER!!!!!!!!


O coração da cidade
                                 Bia Botana

Nestes dias outonais quando as tardes possuem brilho róseo, caminho sem pressa e com pisar leve pelas calçadas da Paulicéia, esta querida Paulicéia de Mario de Andrade, cujo nome está perpetuado em letras douradas na fachada da Biblioteca Municipal. Atrás do prédio os raios de sol que sobre as copas das árvores bailam ao solo lançam um mosaico de sombras e luzes. Na cafeteria me sento sorvendo o gosto forte e amargo de inusitada doçura de São Paulo. Eu contemplo a gente que passa, e ao passar outras imagens também passam ao meu olhar: retalhos de vidas, personagens que vestem e se transvestem, passam modas, passam sonhos e amores, num ir e vir incansável de cores, matizes, conotações e denotações de tempo e lugar de cada batida do coração desta cidade.
             Vejo a esperança de quando tudo ainda estava por construir e a beleza do desabrochar do progresso a atravessar o viaduto do Chá. Eu posso ouvir o tumulto do alvoroço dos poetas de 22 vindo do Teatro Municipal, e, não muito longe dali, os jovens das arcadas franciscanas que bradam discursos democráticos inflamados no largo do Patriarca. Então, eu vejo mamãe e vovó caminhando pela rua Barão, tão elegantes com suas luvas e chapéus, e, entre as duas, lá estou eu, tão pequenina, tão metida à gente e tão feliz na minha inocência, sem saber que deveria me despedir daquele tempo um dia.
               Depois eu vejo as cicatrizes que se abriram no asfalto e no cimento quando todos partiram do coração da velha cidade, deixando-a ao Deus dará para morrer, silenciosamente, sem alarde. Mas, Deus, em sua misericórdia se apiedou daquele coração generoso, que abrigara com o mesmo amor tanto seus filhos como aqueles que lhe chegaram e desconhecia, plantando um sonho em cada um e dizendo mais “Sim” do que “Não” para suas ambições. Assim, por milagre divino, começaram a chegar daqui e dali ao coração da cidade aqueles que iriam o reconstruir, ornar e restaurar o esplendor de dignidade que lhe fora espoliado. Chegam pintores, artistas, atores e cantores; chegam poetas, escritores e filósofos; chegam mestres, alunos e aprendizes assim como chegam malabaristas e palhaços. Pessoas chegam de todas as tribos e lugares numa diversidade alegre e colorida. Elas fazem o velho coração da cidade pulsar novamente com a mesma forte esperança dos dias da juventude, este em retribuição dá bom ânimo e inspiração àqueles que por ele clamam: VIVERÁ!
           O último raio de sol diz adeus e as luzes das ruas já estão acesas no coração da cidade, para mim é tempo de ir para casa, carregando o sabor da Paulicéia na minha boca e as imagens coloridas de um novo tempo em meus olhos. Um tempo em que o som dos sinos da Igreja da Consolação me acorda todos os dias dando esperança ao meu coração. Um tempo novo quando nas manhãs da Praça Roosevelt eu posso abraçar as diferenças e tentar fazer uma diferença também. Eu já tenho um sonho, o qual a coração da cidade me deu, e, talvez, este sonho venha a ser realidade. Tudo é possível se você vive no coração da cidade, até o impossível, isto se você realmente acredita em seu sonho! Uma coisa eu sei, onde quer que eu vá para sempre eu levarei o coração desta cidade no meu coração, porque aqui eu tenho tido minha segunda chance de ser feliz novamente.

                                 São Paulo, 02 de novembro de 2006.


  
     The city’s heart
                           Bia Botana

On these autumn’s days when the afternoons have a rosy shine, I walk without hurry and stepping lightly in the Paulicéia’s sidewalk, this dear Paulicéia of Mario de Andrade, whose name is perpetuated in golden letters in frontispiece of the Municipal Library. Behind the building, the dancing sunbeams pass through the yellow leaves of the high trees and  splash in the shadows the light points like a mosaic drawing on the ground. I go to coffee house and I sit in a  reserved place. I drink the strong and bitter flavour with an unaccustomed sweetness of São Paulo city. In the meantime, my eyes go from face to face of the  fast people on the move, while other images come to my mind: life’s patches of lost memories, visions blending and contrasting colours, which denote each beat of this city’s heart.
       I can see the hope when everything still to be built and the bloom of the progress crossing the Chá’s Viaduct. I can hear the poetic tumult of’ 1922 from the Municipal Theatre and, not very far way from there, the law undergraduates of the San Francis’s Arcades crying their inflamed democratic speeches on the Patriarca’s Square. Then, I see Mom and Grandma walking on the Barão’s Street, very elegant with their gloves and hats, and, between them, there I am: so little and thinking that I am a very important person; so happy in my innocence, not knowing which would have to say farewell to that time one day.
       After that I see the scars opened up in the asphand in  the concrete  when  the  people  left  behind   the  city’s heart for it to die away quietly and without a boast. Although, God had mercy and pity over that generous heart, which had sheltered acquaintances and strangers with the same love and which planted a dream in each one saying more “Yes” than “Not” to their ambitions. Thus, a divine miracle is happening, day after day, new people arrive to the city’s heart with the same wish: to rebuild and to restore the dignity and the unforgettable splendour to this special place of the city. Painters, artists, actors and singers arrive; poets, writers and philosophers arrive; masters, scholars and apprentices arrive, and, even, jugglers and clowns arrive. Persons from all “tribes” and parts are arriving in a cheerful and colourful diversity. They are making the old city’s heart to beat again as  the same strong hope as youth days, and the reward is given in high spirit inspiration to them, who say full of dreams to the city’s heart: “It will live!”
       The last sunbeam say good-bye and the streets lamps are already lit on the city’s heart, for me it is time to go home carrying the flavour of Paulicéia in my mouth and the colourful pictures of  a new time in my eyes. A time when the sound of the Consolação Church’s bells everyday wakes me up and gives hope to my heart. A new time when in the mornings of the Roosevelt Square I can embrace the differences and try to make a difference too. I  already have a dream, which the city’s heart gave to me, and, maybe, this dream will become truth. Everything is possible if you live in the city’s heart, even the impossible, if you indeed believe in your dream! One thing I know, wherever I go for ever I’ll take this city’s heart in my heart, because here I have had my second chance to be happy again.
                                                                                                                                               São Paulo, november 2, 2006.
 

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